domingo, 24 de junho de 2012

Por que não sabemos escrever?


Comecei a escrever este texto instigado por uma dúvida que me assola há algum tempo: Por que depois de 11 anos de estudo acerca da Língua Portuguesa o aluno conclui o ensino médio com tamanha deficiência na escrita? Não sei se tenho a resposta, mas algo me leva a concluir que o maior problema está nas aulas de Gramática. Sim, nas aulas de gramática!
Por mais paradoxal que possa parecer esta minha primária conclusão, é justamente aqui que se encontra a problemática, porque ao invés de o aluno ir para a escola e assistir, dentre outras, aulas de Língua Portuguesa, ele acaba assistindo aulas de gramática. E, comungando com Luiz Fernando Veríssimo, o qual afirma em seu texto "O gigolô das palavras" que a gramática tem que apanhar todos os dias para saber quem é que manda, também afirmo que para o aluno escrever bem não há a necessidade de ele conhecer todas as regras da gramática, e sim praticar a leitura e a escrita nas aulas.
Nas aulas de gramática o aluno aprende apenas regras da gramática normativa (o que é necessário) e não pratica com frequência a leitura e a escrita, ficando bitolado à prática de exercícios de fixação. No livro POR QUE (NÃO) ENSINAR GRAMÁTICA NA ESCOLA, de Sírio Possenti, um trecho me chamou a atenção: "Ler e escrever não são tarefas extras que possam ser sugeridas aos alunos como lição de casa e atitude de vida, mas atividades essenciais ao ensino da língua. Portanto, seu lugar privilegiado, embora não exclusivo, é a própria sala de aula" Ou seja, poucas vezes nós professores trabalhamos a leitura ou a escrita em sala de aula, e quando trabalhamos é quase sempre para "punir" através de avaliação, o que causa já de início uma resistência ao aluno, visto que ele não faz essas atividades por prazer, mas por obrigação.
Comungando com os dois escritores, também digo que o aluno, nas aulas de Língua Portuguesa, deve aprender a ler e escrever numa prática cotidiana, pois acredito ser essas duas atividades as mais relevantes na prática da aprendizagem. Prática esta que o aluno precisa usar no seu cotidiano em todas as suas atitudes enquanto cidadão e membro comunicativo dentro da vida em sociedade.
Não aprendi a ler ou a escrever nos meus longos 11 anos de aulas de gramática (aliás, a gramática é quem tem a menor parcela de contribuição nessa construção), mas buscando essência na leitura cotidiana, tendo contato com bons textos, e, sobretudo, praticando a escrita de forma constante.
É possível afirmar que a construção de uma boa escrita não se dá com regras de gramática ou dicas e macetes que são passados por professore de redação. Esses ensinamentos podem ser bons para quem ja tem a habilidade da escrita desenvolvida ao longo dos anos, mas não resolve um problema de base.
Os professores de Língua Portuguesa devemos subsidiar as aulas de gramática com aulas de leitura, principalmente de textos atuais, e com aulas de produção textual, numa perspectiva construtiva e sem punição por "erros" baseados numa normatividade social e não linguística.

4 comentários:

Adelson Júnior disse...

Bom ponto de vista.
Ainda cabe ressaltar que a bomba nesta questão da escrita costuma "estourar" justamente no ensino médio. O aluno passa o fundamental inteiro sem se estimular e sem ser estimulado pela leitura,não consegue formular um pensamento original e acaba por ser uma fracasso na hora de escrever , rotulando o professor do médio como fraco ou super competente na medida em que este tenha ou não uma fórmula mágica que o faça escrever uma redação que o ajude a passar em um exame vestibular. O aluno e principalmente o professor precisa aprender que a nossa realidade de ensino sempre cobrou um entendimento diferenciado da língua.Aquele método decoreba de alguns pseudos professores,nunca funcionou. Falo isso por ter sido aluno de alguns desses.O que o Enem cobra hoje do aluno não é a reinvenção da roda. É apenas o que se pode exigir de um aluno mediano:Escrita e interpretação.
Pena que muitos desses alunos seja por falta de compromisso ou por terem sido mal preparados durante anos em um modelo de ensino ultrapassado vão encarar a escrita em sua plenitude tarde demais.

João Mendonça disse...

Bom comentário o seu, Adelson!
Tentei explicar a situação numa visão mais pedagógica, mas a bomba estoura de forma mais profunda, pois a não prática da interpretação textual e da produção textual prejudicam o aluno não só na preparação para a atualidade (a redação no ENEM), mas também e principalmente para a não contrução de um aluno pensante e construtivo, formando um alienado gramatical e social!

Adelson Júnior disse...

Realmente, n tinha pensado tão aprofundadamente assim.Mas traduzindo;TÁ TUDO ERRADO!

Anônimo disse...

Devia haver uma reforma na forma de ensino, acho que não só na gramática, mas outras disciplinas também, até como forma de atrair os alunos. Bom texto professor