sábado, 3 de março de 2012

O discurso da mídia

As construções escritas são "pedaços" históricos da humanidade, no sentido que constituem "documentos" nos quais nos baseamos para estudos e pesquisas de comportamentos e atitudes do ser humano na convivência em sociedade. "Mentiras" ou "verdades", os escritos passaram a ser conhecidos como dados científicos para o estudo da própria história, visto que neles se encontram emoções, opiniões e um grande relato de comportamento cultural, religioso, científico, econômico, etc. da humanidade.
Mas, até que ponto tais escritos (discurso) mantém uma relação linear entre sujeito enunciador e sujeito receptor num patamar de informação? Percebe-se que o discurso vem inserido em suas ideias subjacentes de um "ideal" real, porém carregado de sentidos dominantes. E, na contemporaneidade, o que se percebe é uma atuação circence por parte daqueles que fazem a mídia, principalmente no que tange a fatos de violência, incutindo uma "verdade", ou seja, o julgamento, como se tais sujeitos enunciadores fossem constituídos de uma divindade suprema: os suprassumos da verdade.
Dessa forma, é possível perceber que os discursos proferidos pelos meios de comunicação (jornais escritos, TVs, Internet, rádio) universalizam uma verdade, de forma a anular o sujeiro receptor em suas conclusões sobre o que se lê, ouve ou visualiza, constituindo, assim, uma não construção de sentido. E o mais constrangedor é a atuação espetacular, de circo mesmo, que a mídia assume em nossos dias, mostrando um total vazio reflexivo e construtor, passando isso para quem recebe a mensagem.
Em plena expansão multimídia, a mídia utiliza-se de forma teatral e divina desse recurso, sem ter muita preocupação ou compromisso com os resultados ou comportamentos de quem recebe tais espetáculos de informações (sujeito receptor). Ou não? Acontecimentos que mexem com a sensibilização de uma forma geral (tragédias em família ou com pessoas muito conhecidas) são os alvos preferidos para tal espetacularização, o circense.
E o que está a perceber-se não é muito diferente disso; uma mídia que espetaculariza, uma ideologia circense e um sujeito opaco que recebe essa "verdade" de espetáculo sem produzir sentido, ou seja, não é levado ao confronto de pensamentos. E isso acontece porque existe um círculo vicioso do próprio espetáculo midiático.
A partir do momento em que há a leitura daquilo que foi escrito, ouvido ou visto, já há uma aceitação. Se essa aceitação vai ou não continuar é um fato que depende da visão didática e pragmática (conhecimento de mundo) por parte do sujeito receptor. E isso depende de um contexto, o qual se pode caractarizar como a situação histórico-social de um texto, envonvendo não somente as instituições humanas, como ainda outros textos que sejam produzidos em volta e com este ele relacionem.
O contexto envolve elementos tanto da realidade do sujeito enunciador quanto do sujeito receptor, de forma a caracterizar uma continuidade ou não da aceitação daquilo que foi lido, ouvido ou visto, e a análise desses elementos ajuda a determinar o sentido. Afinal, a linguagem é lugar de conflitos, de confronto ideológico. Ou deveria ser!
Mas o que acaba acontecendo é a exploração do imaginário do sujeito receptor, que deixa de assumir uma função de reflexão ou contestamento do discurso para assumir o papel de sujeito receptor coletivo dentro de uma "verdade" coletiva, ou seja, a alienação de pensamentos e construção de uma ralidade imaginária que é explorada justamente pela imaginação e "medo" cultural desse sujeiro.
Os textos que a mídia oferece exploram o imaginário do sujeito receptor levando-o a fazer parte de um processo unificado de pensamento, ação e interação, assumindo a mídia um poder de obediência sobre tais sujeitos, os quais deixam de produzir sentido e engrossam a lógica ideológica do circense.
Neste caso, a aceitação inicial de tal discurso continua, num processo de imaginação social servindo como regulador de atitudes na construção de uma realidade engendrada pela própria mídia. Aqui é possível afirmar que há o discurso préconstruído remetendo ao sentido ideológico de maneira que não só forma, mas também impõe a tal realidade.
Dessa forma, a mídia possui o poder de persuasão e manipulação, num contexto histórico de sujeitos vazios e sem lugar definido - ou reafirmando - definido como sujeitos universais de uma massa dirigida, ou ainda, como diz Zé Ramalho em uma de suas músicas, "povo marcado e povo feliz."

Um comentário:

teste disse...

Parabéns pelo texto.
Conteúdo muito útil.
Vou imprimi-lo para reler com mais atenção.
Parabéns.
Carlos