sábado, 10 de setembro de 2011

A noção de competência como ordenadora das relações educativas

O profissional está apto quando consegue realizar seu trabalho com eficiência e competência em suas ações; esse era o conceito de profissionalização. Apenas o lado técnico e prático da profissão era observado nas ações. No entanto, como a sociedade evolui, mesmo a passos de tartaruga em alguns sentidos - relação humana - , o lado emocional do indivíduo passou a ser peça fundamental no ingresso para o mercado de trabalho, constituindo também mudanças nos métodos pedagógicos para a formação desses indivíduos. A busca na preparação do cidadão profissionalizante deixou de ser meramente técnica para ser equilibradamente técnico-afetiva. Para Roche (1999), antes o profissionalismo abrangia postura cívica e consciência profissional, enquanto atualmente apela-se também, e muito  mais, às qualidades cognitivas e sócio-afetivas do sujeito profissional.
Um professor, por exemplo, em seu trabalho constante na passagem de informações e facilitador do conhecimento; antes havia a preocupação apenas em trabalhar o conteúdo e avaliar os alunos, no entanto esse profissional tem uma programação diferenciada nos dias atuais, de forma a estar sendo mais didático e mais preocupado com a socialização de seus alunos num processo não só profissional, mas, principalmente, emocional. Está sempre procurando colocar esses alunos em situações grupais e adeversas com o intuito de aprenderem a lidar com a diferença e as adversidades de ideias e ações. Dentro desse contexto, Roche entende que profissionalizar implica faser advir uma categoria de pessoas dotadas de uma competência multidimensional, ou seja, não é apenas absorver as informações adquiridas de maneira pedagógica na escola, mas também o conhecimento da prática vivenciada no mundo fora dessa escola.
Com isso, o papel da escola através da educação básica e o papel da universidade através da formação profissional assumem tarefa 'voltada para a formação da personalidade dos indivíduos', de forma a formar cidadãos mais 'completos' e melhor preparados para a vida em sociedade e para a sociedade. Em relatório, a Comissão Internacional Sobre a Educação para o século XXI, "assenta a educação na perspectiva de ser uma experiência permanente sobre quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser".
Sendo assim, o grande desafio da pedagogia é encontrar programas didáticos capazes de formar esse tipo de cidadão: consciente de seu papel na sociedade e preparado para situações contrárias e de desconforto profissional e emocional, e até em que fique sem vínculo empregatício e tenha que trabalhar como autônomo. Assim, o indivíduo estará pronto para 'o investimento em sua subjetividade, em benefício das estratégias de sobrevivência diante das instabilidades social, política e econômica'.
Ocorrendo esse sistema de formação, é possível que a educação, com seus programas curriculares, alcance todas as camadas sociais de maneira indistinta, na qual as classes populares não consigam apeans profissões "subalternas", mas também profissões "elitistas". Isso porque os indivíduos passariam a ter mais consciência social e maior visão coletiva, sem perder a liberdade da afirmação individual.
Dessa forma é possível alcançar tais objetivos com a mudança de pensamento e ações cotidianas para a consciência em benefício de todos. Em princípio, cabe a quem está com as regras do 'jogo' ser mais prático e um pouco humano (aqui não vai nenhuma imploração de favor) e menos metódico, de maneira a mudar algumas dessas regras do sistema.
A educação brasileira está sempre tentando seguir e copiar modelos, principalmente os modelos americanos, no entanto esqueçe que cada realidade é única e própria, e que possuimos um modelo capitalista tardio, por isso estamos sempre partindo atrasado. Não adianta formar cidadãos preparados técnica e emocionalmente quando o sentido de consciência e humanismo fica enquadrado num determinado conceito de competência: quem tem se estabelece. E se as condições são desiguais desde a base? E se as oportunidades não chegam para todos?
Compreende-se, então, que o conceito de competência é bastante relativo e está enquadrado num elitismo absurdo. É preciso questionar as ideologias formadas pelos mentores do 'jogo' e colocar em xeque as bases em que são alicerçadas, começando a trabalhar ideias práticas e ações que cheguem à finalidade, pois os entraves são grandes e a vontade é pequena.

2 comentários:

tecas disse...

Excelente artigo sobre profissionalismo, com um fecho de cinco estrelas, professor João Mendonça.
«E se as condições são desiguais desde a base? E se as oportunidades não chegam para todos?
Compreende-se, então, que o conceito de competência é bastante relativo e está enquadrado num elitismo absurdo. É preciso questionar as ideologias formadas pelos mentores do 'jogo' e colocar em xeque as bases em que são alicerçadas, começando a trabalhar ideias práticas e ações que cheguem à finalidade, pois os entraves são grandes e a vontade é pequena.». Procupações futuras.
Saudações poéticas e bom fim de semana.

Dr. Marcelo Nunes disse...

João, como sempre escrevendo co uma boa dose de genialidade! Bora publicar isso!