Enquanto um gato abocanha um rato já desfalecido, outros três roedores, munidos com sedentas câmeras, fotografam o malogro do semelhante. Eis o modo como o ilustrador Pawha Kucgynskiego retratou a carência de compaixão para com o próximo, em se tratando da obtenção de uma manchete, própria da imprensa sensacionalista. A questão central é que esta, não obstante o desrespeito aos direitos humanos que lhe caracterizam, ampara-se no princípio da liberdade de "informação" a fim de eximir-se das brutalidades que promove e dissemina. Assim, é essencial debruçar-se sobre tal dicotomia para saná-la.
O poeta T. S. Eliot ressaltava que o ser humano pouco suporta encarar a realidade. Desse modo, verifica-se um cruel paradoxo: o público - alvo de programas sensacionalistas busca, na observação dos infortúnios de indivíduos de baixa renda, à margem da sociedade e com fraturas no núcleo familiar, o esquecimento dos seus, através do escapismo. Portanto, o sensacionalismo, enquanto "espetáculo da desgraça", possui uma contradição intrínseca. Percebe-se, então, que, para sanar a falta de controle sobre tal descompasso, faz-se necessária a regulação da imprensa, não arbitrariamente, mas tendo em vista o respeito à dignidade humana.
Outrossim, o escritor francês Gustave Flaubert afirmou que o atentado contra o pensamento é um crime de lesa-alma. A particularidade do sensacionalismo é justamente que ele, em si, já agride a racionalidade dos espectadores e leitores, uma vez que dissemina um discurso calcado no ódio e em estereótipos com caráter "moralizante", que, ao invés de dar margem à frutificação do senso crítico, gera uma lamentável massa de indivíduos alienados e pouco sensíveis quanto à noção de humanidade.
De modo a dissipar as cinzas advindas do sensacionalismo, algumas medidas tornam-se prementes. O Estado, junto a instituições voltadas ao universo midiático, deve regular a atuação desse ramo da impressa, seja cerceando a disseminação de conteúdos que ferem os direitos humanos, seja através da cobrança de elevados impostos, a fim de desestimulá-lo. Por sua vez, incitados pelo debate na escola acerca da manipulação ideológica, os cidadãos devem repudiar discursos sensacionalistas, haja vista quão rasos e nocivos estes são.
Tiago Santos Ribeiro